30 abril, 2013

Singularidade


“Depois de você, os outros são os outros e só...”. Algumas pessoas são incomuns. Incomuns pelo simples fato de não pertencerem à normalidade, a casualidade, e especialmente a fatalidade de serem iguais aos outros. E ela era. Única. Ninguém entenderia a mim. Não se eu explicasse. Sempre me perguntaram o que ela tinha de tão especial. Por que me prenderia e tornar-me-ia tão dependente dela? Por que sendo eu tão único também? Talvez, nenhuma palavra possa descrever tão bem ela o quanto ela mesma, em carne e osso, e espírito. Uma áurea divina, impar. E um jeitinho. Sim jeitinho. A forma de andar extremamente tímida olhando para o chão. A forma única de proteger os olhos mínimos diante de qualquer luz que a fizesse chorar. O momento em que estudava com sentada sobre as pernas e o mordendo a tampinha plástica do grafite. Quando sorria para mim ao se maquiar em frente ao espelho. A pulseirinha que tinha uma pimentinha no braço esquerdo. A forma de pedir beijinhos e dizer que queria mais. A forma de se desequilibrar ao abrir um portão pesado. E quando dirigia pisava no acelerador com apenas o dedão. Tinha charme na hora de tentar girar um volante sem direção hidráulica. Bem como quando passava a marcha e passava o dorso da mão sobre meu rosto. Essa era a definição da palavra singular.

22 janeiro, 2013

Apenas mais uma de amor. (Crônicas)


Antes, um pequeno prefácio. Prefácio não, explanação curta. Esse texto eu comecei a escrever em 2011. Antes de tanta coisa, eu parei na metade. Continuei em 2012. Terminei agora em 2013. Ainda não tá pronto. Eu nunca tô satisfeito e minha opinião é mutável. Mesmo assim, aqui vai uma crônica. E que o amor vá nos levando.

Seria muita presunção de minha parte afirmar que ela não sabe o que é amar. E talvez ela não saiba realmente, porém não sou eu quem tem essa resposta para o que quer que seja esse sentimento. Seria também injusto dizer que ela não me ama. Amor é subjetivo. E o meu ideal de amor é muito antiquado, muito surreal para a liquidez humana de sentimentos. Pelo menos era. Hoje me tornei mais frio e inconsequente quanto ao amor. Talvez tenha me tornado um estúpido. Ou simplesmente me humanizei. Humanos perderam a capacidade de sentir. Ela e eu somos humanos. Talvez nós em especial, porque tenhamos sofrido por amor. Mas até então, todos sofrem. Será então que se não sentimos, perdemos a nossa capacidade de amar? Eu por não acreditar mais. Ela por acreditar tanto nos sentimentos. Sentimentos são belos, mas patéticos. Cansam, e não nos levam a muitos lugares. Em uma relação a dois o que menos vale é o sentimento que chamam de amor. Porque mais uma vez o amor é subjetivo. O que eu significo pra você, não é o que você significa pra mim. E as minhas experiências me levaram a ser o que sou hoje. Como então ela me entenderia? Como então ela me faria sentir o que desacredito sentir? Não é porque não se sente que não existe. Princípio básico do teísmo, deísmo e afins. Mas para o amor não vale. Pessoas precisam se sentir amadas para poder amar. Se eu não digo um fatídico ‘eu te amo’, eu não mereço ouvir, mas se digo, e este é falso, pode convir ao outro e assim ele vai se sentir livre para desprender as amarras da desconfiança dos sentimentos e te amar. Mas apenas ela. Às vezes penso, e tão somente penso, que esforços de ambas as partes são inúteis. Palavras por mais belas que sejam, são apenas palavras. Palavras proferidas por mentes deturpadas e tão somente complexas. Em mim, tudo isso seria suprimido com o físico. Mesmo eu sendo o mais ciente que o sexo não é amor, e nem vice versa. Mas Rita Lee fez uma referência universal com a música “amor e sexo”. ‘Sexo sem amor é vontade!’. Simplesmente é o necessário. O amor nos torna humanos, mas sem o sexo não seriamos animais e se não formos animais, seríamos divinos o que é impraticável. Precisamos do físico, e para ter o físico, precisamos ser hipócritas, porque o sexo virou uma moeda de troca. Preciso, ou precisamos do físico. Do toque, do saber que tenho alguém, da presença. Não adianta muito o fato de pensar, pois o pensamento e a falta, só existem quando na matéria, há no que se pensar, há do que se ter saudades. Ele tenta colocar num pedestal alguém que não demonstra nenhum interesse de querer estar lá. E nas oscilações de humor de um ser que só precisa ouvir, talvez por isso ele não a faça feliz. Por vezes o inverso. Ele não acredita mais no merecimento de estar em pedestal de ninguém e se sente mal por não sentir o mesmo. Precisa, ele, da cura. Se é que a mesma existe. E vou tomando doses homeopáticas de amor. Mesmo sabendo que por vezes as pequenas doses curam. Ajo como uma criança birrenta que não quer tomar medicamento. Mas sigo procurando. Até encontrar, ou reencontrar. Até lá.