22 fevereiro, 2016

...todo mundo quer ser um pedaço de carne, mas não quer ser julgado como um.


Essa não é uma frase solta. Ela tem todo um contexto. A princípio, gostaria de dizer que estou criando esse texto com o objetivo de passar uma opinião de maneira eloquente e menos confusa, pois anteriormente não fora devidamente interpretado. Tudo começou quando postei em uma rede social que achava patético quando uma mulher se passava por um ser inferior querendo beijar caras por serem gringos. Uma amiga feminista apareceu na hora defendo o direito de todas as mulheres de pegar quem quisesse a hora e o momento que quisessem e que isso era machismo. Talvez, mesmo letrado e literado eu tenha me expressado de uma forma inadequada. Ainda para a compreensão desse texto, e para não soar um tanto incoerente, semanas depois postei um texto defendendo o direito de mulheres transarem por transar, apenas pelo desejo como fazem os homens (leia-se machos alfas machistas) sem serem julgados ou considerados imorais ou amorais.

Primeiramente, venho por meio deste dizer que não sou machista. Tampouco sou um feminista e muito menos considero o sexismo uma forma legal de construir uma sociedade melhor. Vamos então expor pequenos fatos, que embasam uma opinião. Primeiramente, sobre mulheres beijarem caras não atraentes, nada contra, pois já fora beijado por mulheres que esteticamente pertencem a um padrão (ditado claro pela sociedade) mais bonito do que o meu. Então qual seria o problema, ou melhor dizendo, qual seria a desaprovação da atitude de beijar um cara não atraente? O que aconteceu se deu em um contexto especifico. Estrangeiros do sexo masculino, não pertencentes a estética de beleza padrão (a mesma ditada pela sociedade) falavam da facilidade de se ficar com brasileiras, que elas eram fáceis e que se insinuavam. Um grupo de mulheres, deste tipo, passara por vários grupos também de estrangeiros e tentavam a todo custo ficar com esses caras. Não havia conquista. Não havia diálogos. Não havia sequer desejo de alguma das partes ou de ambas. Apenas um status. Os caras eram gringos. Mas mulheres não deveriam ter o mesmo direito de homens?
O direito nos permite fazer várias coisas. Inclusive ficar com caras com um status que não condiz com nenhum dos ditames básicos para um envolvimento entre seres humanos seja eles os sentimentos ou tão somente as atrações físicas. O que havia ali não era conquista. Não me importo e até gosto quando mulheres tomam a atitude. Mulheres nunca foram, e nunca serão objetos de conquista e de uso de propriedade masculina. O que há até então é um desejo de emancipação e de independência frente aos comportamentos retrógrados da sociedade vigente. Então por que querer ser um prato? Todo mundo quer ser desejado de alguma forma. Não falo de vaidade em excesso falo de necessidade humana de se sentir querido ou ao menos desejado. Então, todo mundo quer se sentir desejado, mas ninguém quer se sentir desejado por um padrão inferior. É como se todo mundo quisesse ser de alguém, se esse alguém for de seu interesse. Até então nenhum problema, pois, além disso, há a conquista. O que não havia ali.

Tentando fazer disso um link para o segundo embate de redes sociais, eu concordo e apoio que uma mulher transe com alguém numa primeira oportunidade desde que ela queira. Mulheres tem os mesmos direitos que homens na sociedade moderna. O fato de elas não cometerem isso é o receio ou o julgamento das próprias mulheres ou dos homens que elas conhecem, o que por parte dos julgadores de plantão é no mínimo sub evoluído. Atente-se para o fato da educação familiar ser diferente para homens e mulheres quando uns podem ser o que quiserem e outras devem se comportar adequando-se a padrões morais ditados por esses uns (machos alfas). Uma mulher na bela teoria, deveria e tem todos os direitos dos homens. No final não cometem ou se retraem por julgamentos de uma sociedade doente e no mínimo hipócrita. Homens adoram a conquista. Adoram fingir que são poderosos e convencer uma mulher a ir pra cama com eles. Toda sexta feira, eles se vestem para defecar palavras nos ouvidos delas e elas se vestem como se pudessem transar com qualquer um de sua escolha. Tudo isso, movido por álcool, drogas e necessidade de desprendimento geram transas onde não há vergonha no prazer.
Realmente, concordo com o fato de não existir vergonha no prazer. O que discordo aí é que o prazer pelo prazer é um tanto evasivo. A evasividade é o que torna-nos tão frágeis e que acaba destruindo ideias de pensamentos sobre sentimentos. A ideia do se apegar é cada vez mais distanciada onde mulheres são treinadas para não ceder a qualquer um a qualquer custo, e homens de ludibriar e descartar em seguida. Cria se então a misoginia e a misandria (repulsas ao sexo masculino e feminino). Essa necessidade de conquista pós moderna, onde o com quem eu fiquei importa mais do que o porque eu o fiz, acabou criando seres secos, vazios ou como diria um dos meus pensadores favoritos (Bauman, o velhinho polonês) líquidos.

A liquidez humana acaba numa falta de conhecimento do ser em geral, mas parte principalmente da falta de conhecimento próprio. O sistema não nos ensina a amar e acaba nos forçando a relações também líquidas por simplesmente querermos atender a uma necessidade humana: Sentir. O que discordo um tanto é que essa evasividade de sentimentos seja culpa do sexo casual, visto que o sexo casual também faz parte de uma necessidade não humana, no entanto um instinto animal (que você querido leitor, tanto quanto eu) que também temos: O desejo. Na dicotomia entre desejar e sentir nos perdemos. Buscamos um amor daqueles que são vistos em desenhos clássicos da Disney ou nas novelas Globais onde o mocinho e a mocinha são felizes para sempre. No entanto, ouvimos o tempo todo que homens não prestam e que mulheres que transam com mais de dois caras não prestam para amar.


A falta de um autoconhecimento e não o sexo casual é o principal fator para a liquidez moderna. Precisamos parecer machos fortes, poderosos e ricos e mulheres precisam ser santas e prendadas. Somos o que nos obrigam a ser. Parafraseando um amigo meu “Ser feliz é ser livre!”. O que pode causar desconforto é que a liberdade de alguns atinge a moralidade arcaica de outros. Julgamos e não queremos por fim ser julgados. Uma mulher não deixa de ser menos encantadora porque transou com um cara no primeiro encontro. Ela sentiu desejo e o fez. Um homem não é melhor que outro porque pertence a um determinado status. Num mundo onde o que se pensa tem menos valor que a aparência física me assusto com o final de tudo isso. Malhamos, trabalhamos e consumimos para mostrar o que somos e no final quem consome? Tenho a vaga impressão que somos geridos por um sistema nada simples de pensamentos onde cada vez menos o ser humano tem importância. Amar aparenta estar fora de moda. Particularmente, prefiro ainda me manter nessa essência antiquada de sentimentos. Amor é a base de tudo e todos e assim como dizia Caio Fernando Abreu “Livrai-me de tudo que for vazio de amor”. Enquanto o ser for menos considerado do que o aparente sentir, seremos frágeis, destrutíveis e arruináveis. Resumindo isso, seremos tão somente um pedaço de carne.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fantástico.

Anônimo disse...

Exatamente.