23 outubro, 2011

Papelzinho Rosa!

Um dia roubei um livro, velho de uma biblioteca escolar, que infelizmente não é utilizada. Um livro de literatura. Na época isso nem me fascinava. Roubei porque já era professor de literatura e de alguma forma precisava aprender pra poder ensinar. Alguns devem perguntar como não gosto do literário sendo quase formado em letras. Era simples, não tinha um professor interessante de literatura, e nunca fui um bom aluno. Nem mesmo na faculdade. Felizmente tiveram trabalhos ou os professores simplesmente iam com a minha cara. Que coisa coisa boa eu pensava. Na verdade eu me iludia. Há beleza nos livros, nas histórias e hoje admiro ainda mais a forma de pensar de alguém que escreve. Não porque hoje escrevo, até porque já escrevia, porém pela beleza oculta nas palavras que para cada pessoa tem um significado especial. O fato é que roubei um livro. Demorei a tatear, a folhear, e a estudar. Tomei coragem um dia. Ao abrir, um boletim escolar. Um aluno bom em humanas e péssimo em exatas. Até aí nada fora do normal. Achei um papelzinho com um telefone, ainda havia 7 números. O nome da pessoa não estava lá. E no meio do romantismo, o capítulo é claro eis que surge um papelzinho rosa, dobrado ao meio e tímido. Tiro com uma atenção especial. Talvez pela cor chocante do rosa. Não que me atraia, mas que de alguma forma era diferente de um boletim ou de um papel que vieram juntos da mesma cor, a branca. O pedaço de folha A4 rosa, era mais ou menos um sexto da folha. Um palmo de comprimento por três míseros dedos largura, altura ou sei lá. Não aprendi matemática muito bem, exatamente igual ao menino do boletim. Abro com curiosidade aquela folha rosada que desperta de alguma forma minha curiosidade. Uma caligrafia típica de menina, bem miúda, arredondada e com traços de patricinha. A maioria das patricinhas que conheço tem uma letra parecida com essa. Vejo um pequeno rodapé e descubro que a autora se chamava Anna. Com 2 enes. No rodapé uma frase de amor, na verdade uma jura deste sentimento. Agora sim, diferente do boletim e do número telefônico, me interesso. E então começo a ler um texto simples que talvez não estivesse em “Romantismo” por acaso. Era exatamente assim (Não vou corrigir um texto tão belo):


“Aonde está você agora? Eu queria neste instante mergulhar em seus braços e abraços... Sentir o seu calor, pois só ele consegue me aquecer, e me faz esquecer que estou só, sem você. Aonde está seu corpo, pois o meu necessita de sua fragância, Queria e Quero sentir sua respiração, seu desejo, quero seus beijos para acalmar meu coração que pulsa forte, ao acreditar que você vai chegar. Vejo-o em meus pensamentos, sinto-o em minha ansiedade, choro sua ausência, sofro com esta terrível saudade, e só me resta uma pergunta: Aonde está você agora?


Eu sempre vou te amar por toda a eternidade!!!

Anna”


Ao ler o texto, me indaguei duas coisas. Será que ela realmente o amou pra toda a eternidade? Será que esse cara é real? De qualquer forma espero que a Anna não tenha quebrado a cara. Porque as pessoas que escrevem textos deste tipo, sem outras palavras, amam verdadeiramente. Espero que ela não tenha inventado mais amores, do tipo Cazuza quando diz que “o nosso amor a gente inventa”. Amores criados são legais, mas não chegam aos pés dos amores platônicos. Esses talvez por serem mais puros e inatingíveis, sejam mais amor. Procuro um novo amor platônico, enquanto não vem, vou criando.