19 fevereiro, 2012

Acorda Recife, acorda... (Galo)


Acordo 9:30. Levanto meia hora depois. Não tenho planos. Não para aquela manhã e tarde. Era sábado. Sábado de Zé Pereira. Não, sábado de Zé Pereira não. Sábado de Galo. Havia esquecido deste detalhe. Vou tomar café. Apenas eu e a gata de pé. A coroa já estava lá. Meu pai, trabalhando. Minha irmã dormia. E como dormia. Como lentamente e tenho a ideia de ligar a televisão. Ociosamente mudo de canal. Até que ou na tribuna ou na TV jornal, tudo que passa é sobre o carnaval. São Pedro não dava trégua. Chovia como no inverno, águas de Março, em pleno fevereiro. Assisto, vejo na telinha de 32 polegadas as figuras exóticas, fantasiadas, travestidas, maquiadas e flutuantes. Sem mais adjetivos, porque adjetivos de nada serviriam. E eu. A tela parecia pequena. Cada vez menor. E passam os artistas, os trios, os ídolos. Não, não eram heróis, eram ídolos de uma massa que parecia menor por causa da chuva mas tão somente parecia. Uma lágrima desce lentamente o meu rosto. Minha irmã levanta. E me olha antes de ir ao banheiro. Quando ela volta eu grito. Na verdade explodo uma frase: “Eu não consigo ficar em casa no dia do Galo, eu vou!”. E ela disse que pensaria. Recebi apoio na internet. Não posso faltar uma terceira vez. Não com a saúde que eu estou e nem com a proximidade que eu estou*. Lembro me de uma frase que li num livro que dizia “Eu sou povo.” – fazendo referência a Getúlio Vargas, e o motivo de votar nele** – e naquele momento eu era o povo. Não, não poderia ficar em casa. Não conseguiria ficar apenas olhando por uma telinha. É real, existe, tá lá. No meu lindo e mesmo que fétido Recife. E fui, e minha irmã também. E Priscila me ligou, e foi também. E é assim. Irracionalmente sou atraído como um polo de um imã. Porque eu mesmo não saberia explicar como alguém em sã consciência troca o conforto da sua casa, com comida, banheiro e abrigo pra ir pro meio de uma multidão, arriscado a sofrer entre as brigas, levar chuva, ser apertado quando passa um trio, sofrer pisões no pé, gastar dinheiro entre tantos outros reveses. Mas tudo isto fez sentido quando cheguei lá. Tenho o sangue de folião da minha mãe nas minhas veias. E mesmo que racional, eu não consigo explicar com palavras o arrepio que me deu ao ouvir “Frevo mulher”. Sim, até minha irmã falou que os pelos da minha face e da minha barba inexistente se levantaram. E se o amor é inexplicável, Galo eu te amo. Se valeu a pena?! Sem comentários.


*Perdi o galo apenas 2 vezes. Uma por doença e outra por estar em Genebra.

** Livro de Arnaldo Jabor, “Amor é prosa, sexo é poesia” trecho que o avô dele explica o motivo de votar em Getúlio Vargas utilizando a frase: "No Getúlio, seu Arnaldinho... ele gosta do povo e eu sou povo."