16 janeiro, 2010

"Parabéns Coroa!"


Dia 15 de janeiro de 2010. Voltando de uma aula em Nyon, comento com minha aluna de inglês, que hoje é o aniversário do meu pai. Desembarcando do carro dela e chegando a estação, sem pensar ligo para minha casa para dar os parabéns. Obviamente minha mãe que atende ao telefone e fica feliz ao ouvir a minha voz. Pergunto logo pelo meu pai, e recebo a resposta que ele ainda não tinha chegado, mas que chegaria em breve, pois iam almoçar fora. Minha angústia vem à tona. Pergunto desesperadamente e gaguejando que horas ele chegava, pois eu tinha que falar com ele. Como sempre, a imprevisibilidade de horários reinava ,e minha mãe me diz que assim que o coroa chegasse, ela me daria o toque suplicando para que eu não atendesse e assim não comeria seus créditos. Falando em créditos, disse que necessitava desligar, pois estava falando do celular, enquanto ela já estava conversando sobre outro departamento. Dentro do trem, aguardava o toque do telefone. Tirei o do bolso da calça o qual é apertado, e na hora do desespero poderia fazer de tudo, menos conseguir tirá-lo da calça. Continuei a escutar música e tentava lembrar qual era o meu toque, caso ele tocasse nos fones de ouvido. Enquanto isso na forma de como tirar onda com o coroa. Pensei dizer que ele ta fazendo 50 anos, e que isso não é o fim do mundo (na verdade ele faz 49, mas quando a pessoa faz 30, ele já diz que a pessoa fez 50!)... Pensei em cantar parabéns...Pensei em falar palavras bonitas e ensaiadas que já se escreviam em minha cabeça...Pensei tanto... E nada de o telefone tocar. Desembarquei na Gare Cornavin, fui andando para o trem. Nesse meio termo estava tão aéreo, que não sabia se ia para a Manor estudar latim com Neto, ou se ia pra casa de tia Gorda, pois se tivesse sorte com o tempo, ligaria da casa dela que é mais barato. Liguei para tia, decidi logo ir para casa. Sentei-me em um dos vários locais vagos do ônibus. Inquieto, ansioso e torcendo para dar tempo de chegar em casa, mudei de lugar sem nenhum motivo óbvio. Continuei a escutar música, estava tocando Damien Rice e depois vinha uma música de Moby. O meu celular toca. Vi o nome Mainha. Já não sabia se atendia, mas ainda racional desliguei. Retornei a ligação. Ele atende “Alô”...Naquela fração de segundos eu esqueci de todos os belos discursos que outrora existiam na minha cabeça e disse apenas “Parabéns Coroa...Felicidades”. A voz já falhava enquanto ele agradecia e eu sem pensar ainda disse “tudo de bom eu queria estar aí pra te dar um abraço, mas infelizmente não posso!” Ele continuou a agradecer enquanto ainda enérgico perguntava se ele ia sair ou se eu podia ligar mais tarde da casa de tia Gorda. Ele disse que iam almoçar fora e concluiu com a frase “peraí que tua mãe quer falar contigo. Vou passar pra ela. Abraço filho.” Até esse momento, já tinha andado um bocado no busão e também apertado o botão para descer umas 5 paradas antes. Quando minha mãe atendeu, voltei ao normal. A dopamina e a Adrenalina já tinham sido reduzidas à metade. Minha mãe queria me dizer pra eu ligar pra casa de tia Sueli mais tarde, e queria me dar o número. Não consegui digitar no meu cell o número, acabei desligando na cara dela. Retornei a ligação, mas não antes de falar um belo palavrão. Ela atende e eu digo “30. o quê mesmo?” ela repete, eu agradeço e desligo. Sentei me novamente. Reparei que tinha agido como um louco, ao notar que as pessoas me observavam. Ri e sentei. Logo uma lágrima veio molhar meu rosto. Havia voltado a pensar no meu herói, no melhor pai do mundo, no meu exemplo maior... Assim, comecei a chorar, como choro no momento dessa carta. Tudo que planejava dizer se foi em fração de segundos ao ouvir aquela voz. E pensei... Não vou ligar denovo, pois vou gastar os meus créditos para não conseguir falar nada...Então resolvi ligar o PC e fazer esta singela homenagem ao Cara. Só através do meu pai, que eu me lembro que nós somos pequenos diante dos nossos ídolos, dos nossos heróis... E na sua história de luta é que eu me inspiro, embora ainda não seja tão grande o quanto és. Pai, te amo muito. Não esquece disso. E saiba que quero te orgulhar um dia, pelo menos metade do que você me orgulha, pois assim eu já sei quanto é grande (pra caralho!). Felicitações neste dia e em todos os nossos dias. Do seu filho liso e enrolado...Gilberto Junior...