O
lugar não seria sagrado, nem poderia ser. O que eles acabavam de ter
feito não poderia ser jamais considerado como sagrado. Tampouco
profano. Não poderia ser profano. Era apenas um meio termo, não
adjetivado. E se olhavam enfadados, exauridos. Ela com um olhar de
felicidade, aliviada. Ele com uma cara de bobo, apenas contemplando
tudo que de belo havia. E deitaram-se lado a lado. Sorrisos
estampados. Belos dentes a mostra. A respiração ofegante diminuía
sua velocidade e se normalizava aos poucos. Lentamente, com uma calma
de quem já não tinha mais pressa. Corpos ainda suados brilhavam.
Cor de jambo. E continuavam a se olhar, profundamente. O silêncio
não ousava dizer nada. Os lábios mantiveram-se intactos. Talvez a
língua tocasse o céu das bocas. Talvez estivesse tão ofegante
quanto os corpos. E tão somente se olhavam. O olhar dela não fixava
um ponto. Vivos como eram os olhos dela não conseguiriam se conter.
E olhava-o nos olhos negros opacos, nos lábios rosados e murchos e
nos dentes brevemente escondidos e perfeitamente perfilados, ainda
que amarelados. Já ele olhava apenas para os olhos dela. Não
piscava, nem muito menos mudava a direção do olhar. Apenas admirava
os olhos dela que sempre se encontravam timidamente abertos porque
eram miúdos. Ele não saberia dizer a cor dos olhos miúdos. Não
buscaria saber. Não. Não conseguiria encontrar uma cor para os
olhos dela por mais escuros que pudessem parecer, pois apenas os
pontinhos menores ele seguia. Eram vivos. Intensos. Sempre ouvira
dizer que os olhos são o espelho da alma, e para ele, isso se
tornava verdade naquele exato momento. Uma alma sorridente. E feliz.
E frágil. E afável. Era assim. Ele cobriu corpo. A anatomia crua
voltava a atingir o pudor que ainda tinha. E cobriu os sexos enquanto
ela se contorcia e acaricia com as mãos quentes os braços.
Esfrega-os contra as mãos na tentativa de se aquecer. Ele ainda
observa os olhos dela. Ela desiste e se cobre também. Deixa apenas
os seios a mostra. Olha-o com cara de quem quer perder o pudor
novamente e ri. Maliciosamente. Ele ignora. Continua com sua cara de
bobo. Ela fica desconsertada e pensa em ensaiar uma frase.
Perguntaria, pediria uma pausa ou demandaria uma justificativa para
aquele olhar. Ao invés disso ela estica o pescoço e o beija na
face. Segue beijando até a boca onde entrelaçam as línguas.
Docemente, acanhadas. A maneira que ele gostava. Romântico. Ela não.
Sensual. O silêncio não poderia ser quebrado. Na verdade, não
deveria, pois seria destruído. Antes ela sorri. Ele olha agora seu
sorriso. Ela diz:
- Tá pensando no quê?
- Tá pensando no quê?
- Se devo ou não
dizer uma coisa.
- Que coisa.
- Que coisa.
- Futilidade!
- E por que não diz?
Ele hesita na resposta. Sempre direto, agora se via sem palavras, ainda fitando-a nos olhos, mas ele continuou.
- E por que não diz?
Ele hesita na resposta. Sempre direto, agora se via sem palavras, ainda fitando-a nos olhos, mas ele continuou.
- Porque é fútil!
- Ah, poupa-me!
- É que...
- Fala logo!
- Eu tava pensando em
dizer que te amo, mas você pensaria que é porque a gente acabou de
transar, e você diria que estou dizendo isso porque acabamos de..
- Besta... Você é um
besta. E só me ama porque acabamos de nos divertir.
- Não foi divertido!
- Como assim? Claro
que foi!
- Foi fantástico. Eu
amo você e não é por isso.
- Me responde uma
coisa... Na verdade, me jura?!
- O que quiser minha
linda
- Tu vai sempre me
tratar assim?
- Assim como?
- Sempre que
terminarmos de fazer coisas erradas, vai deitar do meu lado, me olhar
com essa cara de adolescente apaixonado, me fitar nos olhos, me
deixar encostar no teu peito, fazer carinho no rosto... – um breve
suspiro, acompanhado de um sorriso, e ela continuou – acariciar
meus cabelos, cobrir meu corpo, beijar a minha testa, me sorrir e
pateticamente me dizer que me ama... Você vai sempre ser assim?
O silêncio perdurou alguns segundos. Como romântico que era, deixou as palavras marcarem aquele momento. E marcariam. Pensou no que responder, e hesitou entre as respostas. Não, aquilo não merecia nem uma mentira, nem uma verdade que pudera ser dolorosa. Ensaiou na cabeça diálogos, monólogos, viajou em pensamentos que iam de Shakespeare até escritores baratos de livros melosos. E disse, não antes de proferir alguns sons, ruídos, onomatopéias:
- E se eu disser que te amo, essa resposta, por algum acaso responderia sua pergunta?
- Você vai ser sempre
ser assim?
- Eu te amo, antes,
agora, depois... até no dia em que você me deixar...
E levantou da cama, afastando ela do seu peito suavemente. Vestiu a roupa encontrada no chão, espalhada entre outras roupas. Encaminhou-se até o guarda roupas que tinha a porta já aberta. Pegou um pequeno bloco de notas. Folheou até encontrar o que desejava. Antes de lê-lo perguntou:
- Você me ama? - Antes que ela o respondesse, ele antecipou-se e disse – Não quero saber. Você me faz feliz. E eu te faço feliz hoje... – pegou a folhinha e arrancou do bloco de notas – jogando em cima da cama – e você me faz feliz hoje...
E levantou da cama, afastando ela do seu peito suavemente. Vestiu a roupa encontrada no chão, espalhada entre outras roupas. Encaminhou-se até o guarda roupas que tinha a porta já aberta. Pegou um pequeno bloco de notas. Folheou até encontrar o que desejava. Antes de lê-lo perguntou:
- Você me ama? - Antes que ela o respondesse, ele antecipou-se e disse – Não quero saber. Você me faz feliz. E eu te faço feliz hoje... – pegou a folhinha e arrancou do bloco de notas – jogando em cima da cama – e você me faz feliz hoje...
Ela lentamente, com o lençol envolto entre os braços, segurando os seios, esticou-se e pegou o bilhete. No pedaço de papel tinha escrito: “Filme: Closer. ‘Te divirto, mas te canso.’” . Ela disse:
- Eu te canso?
- Eu te canso. Mas eu
te amo. E eu prometo que enquanto eu estiver com você, eu serei
assim, tolo, apaixonado, amante convicto do tempo e do amor.
E o silêncio se instaurou. Ela tentou falar, mas ele pôs o dedo sobre os seus lábios e em seguida a beijou. Em seguida a abraçou. Tudo ficaria eternizado na cabeça dele. E ele fora assim. Amou-a durante o tempo que estiveram juntos. Até o dia que ela a deixou. Mesmo depois. Chegou a admitir para si que tinha chegado à humildade máxima que um homem pode chegar, e realmente o tinha feito. Ele precisava dela pra existir. Teve que reaprender com o tempo a viver, a pensar, e posteriormente a amar. E jamais quebrou a promessa dele, nem perdera o brilho dos olhos a cada vez que a via sorrir. Por fim, achou que só ele teria amado. E tão somente talvez, só ele realmente o tinha. E não precisou mais utilizar as palavras pra descrever o amor. Naquele momento, descobriu que poucos tinham aquele dom. Ele tinha.
6 comentários:
Muito intenso, envolvente e bem elaborado. Continue, está em um caminho de viagens animadoras, ou seja, busque a melhoria de seus textos e os forneça sempre que possíveis, para que passamos desfrutá-los também.
Belo texto!
Gostei mesmo! :)
Hummmmmmmm eu acho que li esse texto na sala de aula, estou certo?! Muito bom querido. Sua intensidade com as palavras nos transporta para cada cena narrada nos versos. PARABÉNS! bjoxxx no coração!
Isso é Muito Tocante .
Sabe Aquelas Histórias que te deixam Sem palavras, Muito Bom Amei ...
Da forma que a narrada essa história, me passa que você viveu esse momento...
Texto Perfeito!
Ual! Um orgasmo visual! Parabéns!
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