11 julho, 2010

Pernambuquês!

Criei este texto com o objetivo de mostrar aos meus alunos de português do Brasil a riqueza cultural de minha língua, da minha região, do meu Pernambuco... Espero que gostem pois deu trabalho arretado!

Um cabra caminhava pelo meio da rua...tava aperreado, avexado, arretado e meio azuretado... Enquanto passeava um esmolé sentado no meio fio estendeu a mão pedindo algum trocado. O caba olhou dentro dos bolsos mas naquele momento ele estava liso. O esmolé disse:

- Tio..Eu tô comendo a brocha sem dinheiro, engolindo os cotôcos do pão que o diabo amassou...fome da muléstia eu tô hoje.
O tio respondeu começando uma conversa:
- Iapôis! Eu também tô liso que é a bexiga, sem um tostão no bolso...você não trabalha não?!
- Não, eu peço, mermo...deixa de ser pirangueiro...que queijo...
- Ah, você é um maloqueiro vagabundo...vá trabalhar...
- Eu não arranjo trampo...Eu sou um tabacudo, zambeta de dois cambitos, trubufu, zarolho, peguento, do cabelo pichaim que nem quenga paia, tenho uma inhaca insuportável, sou drogado...saca aqui o loló! Ainda sou pivete malamanhado, feio feito gabiru, matuto das brenhas, nasci em Pesqueira que é lá nos canfundós de Judas...
- Vôte! Para de mangar de tu mesmo. Deixa dessa gréia...
- Mas é dotô! Mas pelo menos eu não sou nenhum marreteiro, né?!
- Massa, pelo menos isso...
Do nada, uma zoada de sirenes interrompe o diálogo...Era a polícia passando com um pivete que foi preso numa zona num posto de gasolina. A delegada conhecia o tiozinho e parou a viatura pra conversar leseira também. Ela disse que o pirraia que foi apreendido, não tinha mais que catorze anos, e com um ferro de mentira tentou assaltar o local. Carlos mesmo torando o aço da bexiga, o bombeiro que era o tampa de crush, ligou pra polícia e o meliante não conseguiu se evadir do lugar.

A policial era toda arretada. Era galega mas sarará com um batom “cheguei”, com o cabelo chei de biliro, um diadema, um trancilim, não bastasse isso ainda estava de alpercata. Ela dizia pro esmole maloqueiro e pro tio enquanto se abria mangando do ladrão:
- Avalie só, tentar assaltar um posto com um cano de água fingindo que é um três oitão, é melhor assaltar com um badoque, Que abestalhado...
A policial questionou ao tio quem era o individuo maltrapilho que estava com ele. O tio disse tava indo fazer feira e que tinha acabado de conhecer o Zé explicando que era um moleque frouxo e cheio de pantim que não trabalhava e que tava pedindo... Zé se dirigiu ao moleque dizendo:
- vê só..Eu sou cafuçú, desde criança sou buliçoso e com minha peitica consegui ser lanterneiro, mexia aqui, bulia ali, as vezes dava rolo mas como um bom treloso consertava a besteira que eu fazia, no começo num gostava não, fazia a pulso mermo e hoje sou o cão chupando manga nisso. - Dizia ele fazeno mugangas. – Eu posso te convidar pra trabalhar na minha oficina, você não vai ficar podre de rico mas vai ganhar uns trocados. Tu topa?
O moleque disse:
- oxe, já é...quando começo?
O tiozinho lanterneiro disse:
- Deixa de ser agoniado...começamos amanhã...mas hoje tu pode ir arrumando teus trapos e panos de bunda que eu te pego já e te levo. Eu vou pegá o carango e fazer o balão depois volto pra te pegar, e eu te arranjo um quarto perto do oitão da minha casa, tem muriçoca que só mas é melhor que ficar nessa rodagem. Lá em casa agente para pra comer bolacha creme craque e biscoito Maria com guaraná...agora vê se num fica feito um aruá aí parado feito pombo leso, se avexe que eu tô apressado e tenho que arribar...Num fique borocochô, porque isso me irrita e eu num quero arengar com tu...
A policial se meteu e disse:
- É isso aí... já tem vagabundo que só no mundo. Aproveita essa chance e bota pra torar!
O esmolé virado num molho de coentro ficou pronto e disse:
- Muito obrigado dotô..eu tava xôxo de fome. Eu quero ser o tampa nisso...
- Mas vá com calma esse menino que você ainda é um tamborete, tu tem muito que aprender ainda...vô nessa..vou num pé e volto no outro...Meu carro ta lá perto do girador, perto do gelo baiano...bora saindo desse meio fio que eu já volto!
- Pó deixar doutor! Vou aprender a deixar as paradinhas que chegam afolosadas bem acochadinhas. Acho que não é nenhum nó cego e eu sou invocado...agora vá pegar seu carro cheio de frisos e com uma jante invocada e vamo embora que vai cair um toró da gota serena!
- É mermo, e ainda tenho que comprar macaxeira, jerimum e pão tabica...Se eu não compro a patroa fica fazendo fuxico dizeno que eu gasto com piriguetes...ainda tenho uma pelada hoje pra jogar e mostrar aos caras que eu não sou nenhum perronha...-e saiu como se estivesse com a macaca.


Gilberto Junior.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do tx.

Gilson Lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gilson Lopes disse...

Como sempre, esse meu caríssimo primo sempre me surpreende com a sua criatividade de Psicólogo Frustrado.

Foi realmente um imenso prazer ter compartilhado aqueles quase 12 meses em solo helvético onde você produziu essa "tortura" para os seus alunos de português do Brasil como língua estrangeira da "Université Populaire du Canton de Genève".

Desse simples mortal PDK,

Gilson Lopes