
Um cabra caminhava pelo meio da rua...tava aperreado, avexado, arretado e meio azuretado... Enquanto passeava um esmolé sentado no meio fio estendeu a mão pedindo algum trocado. O caba olhou dentro dos bolsos mas naquele momento ele estava liso. O esmolé disse:
- Tio..Eu tô comendo a brocha sem dinheiro, engolindo os cotôcos do pão que o diabo amassou...fome da muléstia eu tô hoje.
O tio respondeu começando uma conversa:
- Iapôis! Eu também tô liso que é a bexiga, sem um tostão no bolso...você não trabalha não?!
- Não, eu peço, mermo...deixa de ser pirangueiro...que queijo...
- Ah, você é um maloqueiro vagabundo...vá trabalhar...
- Eu não arranjo trampo...Eu sou um tabacudo, zambeta de dois cambitos, trubufu, zarolho, peguento, do cabelo pichaim que nem quenga paia, tenho uma inhaca insuportável, sou drogado...saca aqui o loló! Ainda sou pivete malamanhado, feio feito gabiru, matuto das brenhas, nasci em Pesqueira que é lá nos canfundós de Judas...
- Vôte! Para de mangar de tu mesmo. Deixa dessa gréia...
- Mas é dotô! Mas pelo menos eu não sou nenhum marreteiro, né?!
- Massa, pelo menos isso...
Do nada, uma zoada de sirenes interrompe o diálogo...Era a polícia passando com um pivete que foi preso numa zona num posto de gasolina. A delegada conhecia o tiozinho e parou a viatura pra conversar leseira também. Ela disse que o pirraia que foi apreendido, não tinha mais que catorze anos, e com um ferro de mentira tentou assaltar o local. Carlos mesmo torando o aço da bexiga, o bombeiro que era o tampa de crush, ligou pra polícia e o meliante não conseguiu se evadir do lugar.
A policial era toda arretada. Era galega mas sarará com um batom “cheguei”, com o cabelo chei de biliro, um diadema, um trancilim, não bastasse isso ainda estava de alpercata. Ela dizia pro esmole maloqueiro e pro tio enquanto se abria mangando do ladrão:
- Avalie só, tentar assaltar um posto com um cano de água fingindo que é um três oitão, é melhor assaltar com um badoque, Que abestalhado...
A policial questionou ao tio quem era o individuo maltrapilho que estava com ele. O tio disse tava indo fazer feira e que tinha acabado de conhecer o Zé explicando que era um moleque frouxo e cheio de pantim que não trabalhava e que tava pedindo... Zé se dirigiu ao moleque dizendo:
- vê só..Eu sou cafuçú, desde criança sou buliçoso e com minha peitica consegui ser lanterneiro, mexia aqui, bulia ali, as vezes dava rolo mas como um bom treloso consertava a besteira que eu fazia, no começo num gostava não, fazia a pulso mermo e hoje sou o cão chupando manga nisso. - Dizia ele fazeno mugangas. – Eu posso te convidar pra trabalhar na minha oficina, você não vai ficar podre de rico mas vai ganhar uns trocados. Tu topa?
O moleque disse:
- oxe, já é...quando começo?
O tiozinho lanterneiro disse:
- Deixa de ser agoniado...começamos amanhã...mas hoje tu pode ir arrumando teus trapos e panos de bunda que eu te pego já e te levo. Eu vou pegá o carango e fazer o balão depois volto pra te pegar, e eu te arranjo um quarto perto do oitão da minha casa, tem muriçoca que só mas é melhor que ficar nessa rodagem. Lá em casa agente para pra comer bolacha creme craque e biscoito Maria com guaraná...agora vê se num fica feito um aruá aí parado feito pombo leso, se avexe que eu tô apressado e tenho que arribar...Num fique borocochô, porque isso me irrita e eu num quero arengar com tu...
A policial se meteu e disse:
- É isso aí... já tem vagabundo que só no mundo. Aproveita essa chance e bota pra torar!
O esmolé virado num molho de coentro ficou pronto e disse:
- Muito obrigado dotô..eu tava xôxo de fome. Eu quero ser o tampa nisso...
- Mas vá com calma esse menino que você ainda é um tamborete, tu tem muito que aprender ainda...vô nessa..vou num pé e volto no outro...Meu carro ta lá perto do girador, perto do gelo baiano...bora saindo desse meio fio que eu já volto!
- Pó deixar doutor! Vou aprender a deixar as paradinhas que chegam afolosadas bem acochadinhas. Acho que não é nenhum nó cego e eu sou invocado...agora vá pegar seu carro cheio de frisos e com uma jante invocada e vamo embora que vai cair um toró da gota serena!
- É mermo, e ainda tenho que comprar macaxeira, jerimum e pão tabica...Se eu não compro a patroa fica fazendo fuxico dizeno que eu gasto com piriguetes...ainda tenho uma pelada hoje pra jogar e mostrar aos caras que eu não sou nenhum perronha...-e saiu como se estivesse com a macaca.
Gilberto Junior.