18 agosto, 2011

Anderson Bomba e Violência!


Hoje estou vestindo preto. Hoje as pessoas da faculdade estão vestindo preto. Eu até gosto de roupas pretas. Elas tem uma elegância ímpar. Aleatoriamente, abri meu guarda-roupas e peguei uma camisa. Era preta, com o nome da cidade de Budapeste. Saí e fui dar aula. Dia estressante e numa discussão quase peço demissão. Acho justo discutir educação com aluno, mas aquela conversa que entrou em política e em sistema, tava alterando o meu humor que já não estava tão feliz, depois de dar uma senhora bronca na sétima série. Passada a raiva e a vontade de pedir demissão vim para casa. Como de costume, desabafei com meus pais que me deram compreensão e até passaram a mão na minha cabeça dizendo: bote pra fuder. Geralmente sou paciente e até pareço presunçoso e arrogante. Não gosto de discutir com pessoas que gritam, e nem que não tem o menor domínio do assunto que falam. Levei a discussão porque acredito na educação. Pelo menos ainda acredito. Depois da conversa com meus pais, venho eu ao computador. Ao entrar no facebook, uma notícia me choca mais do que o comum. A morte de um colega de faculdade, o sempre brincalhão e alegre Anderson Bomba. Eu conhecia este rapaz apenas de vista, conversas boêmias, dúvidas sobre DA e festas em Flavinha. Ele fazia matemática e era mais próximo do meu grande amigo de infância Josemir Carvalho. Talvez a morte dele não fizesse tão mal, porém um dia conheci a história deste verdadeiro guerreiro. Se resume brevemente em ser abandonado ainda criança na avenida Paulista, vir pra Recife de alguma forma, vender pulseirinha e chapéu de time em estádios, passar em matemática num vestibular e trabalhar dignamente de cobrador de coletivos para ganhar a vida. Reagindo a um assalto, foi baleado e acaba falecendo. Se pensarmos friamente em educação agora, poderemos deduzir que Anderson, poderia ter se tornado um dos caras que atirou nele. Felizmente ele escolheu estudar. Infelizmente outro preferiu roubar. Não acredito muito em justiça divina e também acredito que esse cara no meio da marginalidade não vá durar muito tempo. Talvez o bandido criado pelo sistema dure um pouco mais do que o nosso guerreiro. Mas sua hora há de vir. Não consigo ter ódio do bandido. Odeio o sistema que criamos, que vez ou outra pune inocentes, através dos monstros que ele próprio cria. Volto hoje ao colégio mais uma vez de preto. Depois de ter ido na terça à faculdade de preto, não só eu, mas quase todos os que o conheciam. E se na simbologia da nossa sociedade o preto é a cor do luto, Bomba merece essa mínima homenagem. Talvez o mínimo que eu ainda posso fazer pelo sistema, seja convencer alguns alunos meus de que estudar ainda é o melhor caminho. Ou talvez a nossa única salvação. Obrigado pelo exemplo Bomba. Descanse em paz mais uma vez!

Um comentário:

Emília Braz disse...

Nem o conhecia assim, nem sabia da sua história, nem de seus gostos mto menos dos desgostos, mas há tempos uma notícia não me tocava assim. Talvez pq apesar de não conhecer sua história eu conheci seu sorriso, seu abraço e sua alegria e boa vontade. A educação o salvou, morreu como homem de bem, trabalhador, lutador, e não viveu como marginal, submisso ao sistema. "Paz onde esteja"